A era do download gratuito não prejudicou só as gravadoras e os rendimentos dos compositores e intérpretes estabelecidos. O público também tem sofrido bastante com a volta de bandas e artistas que já haviam se aposentado publicamente. Vendo que a grana proveniente da vendas de CDs minguou, as bandas saem em excursões mundo afora em busca do dinheiro fácil dos saudosistas. Só nos últimos meses, fomos obrigados a conviver novamente com os Back Street Boys, as Spice Girls e o Roupa Nova. E as entrevistas sobre o retorno triunfal? Com as bandas, voltam todos os clichês. “Estamos com saudade do contato com os fãs.” “Nossas desavenças já passaram. Considero normal alguém da própria banda ter roubado sua mulher e ter tentado atropelar você.” “Continuamos com a mesma energia de antes, e vai ser incrível tocar em... Você é repórter de que país, mesmo?”
Outros efeitos colaterais do fim da era do disco são os subprodutos lançados pela indústria para equilibrar o orçamento e ordenar o patrimônio musical dos artistas. Alguns têm a sorte de ainda autorizarem em vida a utilização de suas obras para outros fins comerciais. Mas quem já passou desta para melhor não tem essa chance. E pode ter facilmente sua imagem adulterada por um familiar, ex-marido, ex-esposa ou algo do gênero que ainda terá a coragem de declarar que “Fulano ficaria muito orgulhoso de ver seu nome associado a essa linha de fraldas de excelente qualidade. Apesar de sua figura pública de punk-andrógino-satânico, ele gostava muito de criança”.
Por isso, como sei que é inevitável que lancem em breve o Guitar Hero Jimi Hendrix, quero desde já fazer uma pequena lista de exigências para que o produto não traia minha reputação e memória. Anote aí. A embalagem deve conter uma receita de barbitúricos carimbada e assinada por um médico. Quatro groupies infláveis vestidas de maneira sexualmente agressiva. E, por último, como não quero dar prejuízo para meus fãs, a caixa deve conter 3 guitarras: uma para incendiar, outra para quebrar e a terceira para jogar mesmo. Mas não jogue até de madrugada, porque no outro dia você tem que trabalhar.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
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